A professora Maria da Conceição Ouro Reis é mais do que uma simples lembrança de passagem pelo Colégio de Aplicação, mais do que uma professora, é um dos símbolos de dedicação e exemplo da memória do professorado desta escola. Sua intelectualidade fértil crava à sua existência a verdade de que, se partindo, restam lições... se ausente, eterniza-se em palavras de vida.
Como aluna, frequentou as escolas Senhora Santa’Anna, N. S. de Lourdes e Atheneu Sergipense. Em 1950, cursou, na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia, Letras neo-latinas. Como professora, lecionou idiomas, entre eles, o latim, o francês, o espanhol, o italiano, mas, principalmente, o português. Ensinou em colégios religiosos de Sergipe, no Colégio do Salvador, no Colégio N. S de Lourdes; em colégios públicos, como o Atheneu Sergipense, o Colégio Tobias Barreto e a Escola Normal; entretanto, foi no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe, 1973, que ela desenvolveu com maior abrangência e intensidade suas atividades de ensino, permanecendo nele até sua aposentadoria em 1991. Entre seus ex-alunos, encontram-se magistrados, médicos, religiosos, imortais da academia sergipana de letras, professores, poetas, pesquisadores, entre outros, que dela receberam contribuições em sua formação.
Como escritora, deu à lume textos técnicos e literários, estendendo, no último caso, sua técnica literária entre romances, contos, poesias, o que resultou em inúmeras obras inéditas e publicações, por exemplo, dos livros de poesia “A lagoa do fauno”, em 1975 e “À sombra das acácias”, escrito aos 21 anos e impresso em 2016, além de projetos como “Redigindo bem ou a arte de comunicar-se”, 1988, entre outros.
No Colégio de Aplicação, como defensora das letras e da escrita, implantou a disciplina das suas aspirações, a disciplina do seu coração: a Literatura, sem dispensar de seu alcance estudos literários franceses e ingleses. Concretizou a publicação do “Projeto de criação literária”, e, junto com os alunos, criou o jornal “GÊNESIS”, do qual era redatora. E foi construindo experiências de texto dos alunos, dando espaço de publicação a eles, a professores e a personalidades sergipanas com seus textos. Ao fim dessas experiências, no Colégio de Aplicação, desenvolvia também o “Núcleo de Estudos de Língua Portuguesa”. Assim, uma ideia da contribuição dessa notável professora vai se conferindo.
Conceição Ouro, como mais comumente era conhecida, em sua trajetória, crescente, de estudante a professora, de professora a escritora encarou desafios, transformando seus sonhos das letras em realidades, transportando experiências à sala de aula e implantando um bem-sucedido processo de produção de escrita. Notável exemplo!
Ela, mestra das letras, com lições clássicas em língua portuguesa, defensora e produtora de literatura, portadora de lições raras em sala de aula, de narrativas e canções, é uma das personalidades que ajudam a imortalizar a épica e o lirismo sergipanos. Sua tarefa de professora e intelectual a faz protagonizar uma das mais belas páginas escritas na história do Colégio de Aplicação da UFS.
Seus escritos não ficarão no esquecimento e sua poética pode ser cantada na tônica do eu lírico em À sombra das acácias, do seu poema Tempestade:
Que me importa a chuva ou o trovão,
ou os cataclismos que enchem o espaço vão,
se possuo o filtro da vida
dentro do coração?
E, por tudo que as palavras não expressam... Maria da Conceição Ouro Reis, presente!!!
Texto produzido pelos docentes do Colégio de Aplicação da UFS:
Alfredo Bezerra dos Santos e Marlucy Mary Gama Bispo, Joaquim Tavares da Conceição.
Fonte: Documentos do Centro de Pesquisa, Documentação e Memória do Colégio de Aplicação da UFS
Fotografia: Acervo da Academia Literária de Vida. Disponível em: https://academialiterariadevida.blogspot.com/p/clea-maria-brandao-de-santana-e.html?m=1